#8 - minha nova obsessão do cinema se chama Sarah Polley
take this waltz, women talking e away from her são filmes dirigidos por Sarah Polley e me encontro profundamente marcada por cada um!
recentemente, Entre Mulheres foi indicado a algumas categorias do Oscar, vencendo em Melhor Roteiro Adaptado. quando assisti ao filme, me impressionei tanto que fui em busca dos demais longas da diretora, e me deparei com uma surpresa atrás da outra. Sarah Polley entrega personagens cativantes, diálogos poderosos e profundos, questionamentos acerca dos relacionamentos e da convivência com o outro, entre muitas outras jóias através de histórias que ficam na gente.
infelizmente, não encontrei os filmes em nenhum streaming. foi tudo pelo torrent mesmo, então bora colocar pra jogo a adolescência dos anos 2000 que baixava os filmes tudo, enquanto torcemos para os streamings aderirem sarah polley.
TAKE THIS WALTZ (ENTRE O AMOR E A PAIXÃO)
não sei amanhã (afinal acabei de ter uma aula sobre inconstância justamente com o filme), mas este aqui, hoje entra para o top 5 favoritos da vida pela forma que conversa diretamente com diálogos internos que tenho tido nas últimas semanas. em meio a rotina de um casamento, Margot se envolve com um vizinho que chega em sua vida de supetão, e mesmo que tente reprimir o sentimento da paixão a todo custo, obviamente falha. entre muitos dilemas, se encontra na condição de querer, mas não saber o que quer, não perceber que nada nem ninguém dará conta de satisfazê-la, pois a insatisfação é uma característica natural da condição humana. é admirável a maestria da diretora em representar a constante busca pela emoção que somente o novo é capaz de proporcionar, assim como o companheirismo e parceria que existe somente com o tempo, paciência e maturidade. acima de tudo, gosto de como o filme nos lembra que ninguém pode ser aquilo que completará o vazio do outro, a felicidade plena não existe, nem ninguém que possa ser a felicidade plena para o outro. em determinado momento, a frase "o novo também fica velho" surge no filme, que é basicamente um resumo da história toda: os amores mudam, se transformam. a rotina é amor, assim como a paixão é também uma forma de amor, e estamos aqui para vivenciar todos eles, pois quando se trata de relacionamentos, não há regras nem manuais a seguir, os sentimentos são mutáveis, e é isso que torna a vida imprevisível e instigante. desta pérola do cinema, levo comigo a bonita mensagem de que independente do relacionamento que estejamos, é necessário estar consigo mesmo, mas também a coragem de me permitir as diferentes formas de amor que surgem no caminho. uma história genuína, realista, excitante, com cenas e diálogos inesquecíveis (além da fotografia lindíssima). amei profundamente.
WOMEN TALKING (ENTRE MULHERES)
um grupo de mulheres reside numa comunidade cristã isolada nos EUA e se descobrem alvos de abusos sexuais cometidos pelos homens desta mesma comunidade. a partir desta descoberta, mulheres de diferentes famílias se reúnem para tomar uma decisão (deixar a comunidade, ficar e lutar ou perdoar os agressores). o que se segue são conversas francas onde diferentes perspectivas entram em embate. despidas de qualquer poder sobre suas vidas e seus corpos, não alfabetizadas e resumidas ao lar/filhos, elas desconhecem a vida longe desta comunidade que utiliza a religião como uma forma de controle social sobre elas. a fé permeia grande parte dessas mulheres, assim como a submissão e o acato à autoridade masculina, e é através do peso da escolha que indagações irão surgir, junto com divergências de opiniões e muitos sentimentos palpáveis, inclusive as considerações, o medo de partir dessa comunidade e do mundo lá fora, que pode ser ainda pior do que vivem ali. todas sofreram um trauma profundo e cada uma expressará a dor de forma diferente, tendo apenas umas as outras para encontrar uma forma de sobrevivência. nesta situação desesperadora, surgem diálogos excelentes junto às emoções despertadas em cada uma durante o processo, que dói em cada uma de nós.
AWAY FOR HER (LONGE DELA)
este aqui figura a primeira direção de Sarah Polley que também assina o roteiro (baseado num conto presente no livro Ódio, Amizade, Namoro, Amor, Casamento, de Alice Munro), demonstrando toda a sensibilidade que viria a permear seus demais trabalhos. Grant e Fiona estão casados a mais de quarenta anos, enquanto Grant é inundado pelas memórias do que viveu com a esposa Fiona, para ela essas memórias não persistiram. quando Fiona é institucionalizado em uma clínica especializada, se apaixona por outro homem. Grant ao mesmo tempo que entende a situação, enfrenta o martírio que o obriga a viver no passado enquanto torna-se espectador da nova felicidade de sua esposa. com ar melancólico permeando os personagens e uma apatia que pode até gerar certo incômodo, Longe Dela oferece uma perspectiva diferenciada sobre a vida com alzheimer, deixando claro o senso de tragédia que é despedir-se, em vida, de alguém, mas também a oportunidade de renascimento que este ato pode proporcionar. um filme sobre fim e começo, sobre passagem do tempo, amor e as inconstâncias da vida.
EXTRA:
MY LIFE WITHOUT ME (MINHA VIDA SEM MIM)
e qual foi minha surpresa ao descobrir que Sarah Polley é a protagonista de um dos meus filmes favoritos assistido anos atrás, dirigido por Isabel Coixet (que merece um super destaque também)? Minha Vida Sem Mim acompanha Ann, mãe de duas filhas pequenas, morando num trailer com o marido que sobrevive de bicos enquanto ela realiza faxinas durante a madrugada. Ann descobre uma doença em estágio terminal… restam-lhe apenas dois meses de vida. a busca de Ann por uma vida sem ela é angustiante, assim como sua decisão de esconder a doença. durante toda a preparação do vir-a-ser, Ann vai entendendo a morte e a finitude como uma possibilidade na vida de cada sujeito, principalmente na própria. sem apelar para o melodrama, Ann lista dez coisas que quer realizar antes de morrer. com o pai na prisão e uma mãe amargurada, a protagonista tenta encontrar a realização nas pequenas coisas enquanto grava mensagens para cada aniversário de suas filhas até ambas completarem 18 anos, busca fazer com que alguém se apaixone por ela e escolhe uma nova esposa para o marido. apesar de levar uma vida em que é feliz, ainda que com todos os percalços, Ann representa a inevitável insatisfação presente em todos nós.
Eu amo amo amo Take This Waltz
meu queixo foi lá embaixo com a informação de que a sarah polley é a protagonista de "minha vida sem mim". eu amei esse filme quando vi há uns 15 anos. que boa descoberta, obrigado!