#5 - um monólogo do cinema, madame bovary e trilogia before
um pouquinho de tudo que é para combinar com os dias caóticos e cheios de sentimentos bagunçados rondando por aqui.
PROVAVELMENTE MEU MONÓLOGO FAVORITO DO CINEMA
sou apaixonada em Me Chame Pelo Seu Nome por várias razões (pelo livro também, que só de lembrar da escrita fico suspirando pelos cantos), mas se eu pudesse destacar a cena mais bonita e contagiante, com certeza seria o monólogo do pai do protagonista, que ao ver o filho de coração partido, dá uma aula sobre afetos.
“Quando você menos espera, a natureza tem maneiras astutas para encontrar nossos pontos mais fracos. (...) Agora você pode não querer sentir nada. Talvez nunca tenha desejado sentir algo. E talvez não seja comigo com quem você queira falar sobre essas coisas, mas sentir algo você obviamente sentiu. Vocês tiveram uma amizade linda. Talvez mais do que uma amizade. E eu o invejo. No meu lugar, a maioria dos pais esperaria que tudo passasse. Rezariam para que os filhos ficassem bem, mas eu não sou esse tipo de pai. Nós arrancamos tanto de nós mesmos para nos curarmos mais depressa das coisas que ficamos esgotados perto dos 30 anos. E temos menos a oferecer toda vez que começamos algo com alguém novo. Mas se obrigar a ser insensível assim como sentir nada... Que desperdício. Eu posso ter chegado perto, mas nunca tive o que vocês dois tiveram. Algo sempre me detinha ou ficava no caminho. Como você vive sua vida é da sua conta. Apenas lembre-se: nosso coração e nosso corpo nos são dados apenas uma vez. E antes que perceba, seu coração estará esgotado. E seu corpo, chega a um ponto em que ninguém olhará para ele. Muito menos querer chegar perto dele. Agora, você sente tristeza, dor. Não as mate. Muito menos a felicidade que sentiu.” (ME CHAME PELO SEU NOME)
MADAME BOVARY ME ATROPELOU…

o clássico de Gustave Flaubert, reeditado recentemente pela editora antofágica, me acompanhou na última semana. além de ludibriada pela história em si, as ilustrações de Maria Flexa complementaram a experiência de lindamente. de tão encantada com as imagens presentes na obra, fucei o perfil da autora e vou contar para vocês que passei horas me deleitando.




a edição da antofágica conta também com a apresentação de Vivian Villanova, que descreve o poder da obra de nos atravessar com tantos sentimentos, conflitos e dilemas de uma vida que ansiava o inalcançável. compartilho parte do texto, que deixou o livro ainda mais precioso, e me permitiu enxergar o tanto que existe de Emma Bovary dentro de mim:
“Emma Bovary sou eu. Um corpo político que carrega as restrições de seu tempo. Que escandaliza quando atende ao chamado de sua curiosidade e se entedia com o amor domesticado. Que sente culpa, arrependimento, vontade de ser salva pelo romantismo. Que tem fé, tem arte, tem vício. Emma Bovary sou eu. Romântica, inquieta, insaciável. (...) me perguntando se o sonho e a ação, as paixões mais puras, os prazeres mais furiosos dariam conta de apaziguar minha alma atormentada. Lendo Madame Bovary entendi que por vezes a imaginação não basta. Seria mais fácil se assim fosse, mas nosso impulso é o de experimentar a vida na pele. Se na Terra somos matéria, átomo, corpo, Emma não se contentaria em ficar em casa colecionando romances ou ouvindo as músicas menos perigosas ao hábito. O corpo insiste em se deslocar, tocar, cheirar, ouvir o vento, compartilhar as pequenas mortes, soprar o medo. (...) Que investigação preciosa é acompanhar Emma Bovary. Chorei por mim e pela busca insaciável de felicidade, paixão e embriaguez que entrelaçam minha vida à dela. Me comoveu a humanidade incorrigível de Emma que é também a minha.” (Vivian Villanova)
O ENCANTO E MAGNETISMO DA TRILOGIA BEFORE…
alguns dias atrás, me deparei com registros de Antes do Amanhecer, que figura entre meus filmes favoritos, sendo parte de uma trilogia (Antes do Amanhecer, Antes do Pôr-do-Sol e Antes da Meia-Noite). as fotos me causaram uma nostalgia gigantesca e tive a necessidade de registrar a grandeza desta série que se propõe analisar o amor e a passagem do tempo; a paixão urgente nascendo e transformando-se em um sentimento igualmente bonito, mas marcado pela calmaria e maturidade.




acompanhar a jornada de Jesse e Celine em fases específicas e muito significativas, é uma experiência de amadurecimento, uma grande homenagem às incertezas que a vida invariavelmente insiste em nos forçar a encarar. no primeiro filme, o telespectador é conquistado por toda a beleza, alegria e raridade das primeiras vezes, da delícia de se conhecer alguém que te proporcione aquela conexão imediata e fugaz, deixando-nos com a sensação de esperança, melancolia e desejo. nos demais filmes, há uma janela escancarada para a realidade, para a crueza do cotidiano. com honestidade, o casal representa os conflitos e dificuldades em lidar com as manias e vontades do outro, de encontrar novas formas de se amar todos os dias em meio ao turbilhão da vida: às bagagens que cada um leva, às frustrações inevitáveis e também as belezas da intimidade que somente o cotidiano é capaz de proporcionar.
Amei rever essa delícia de monólogo. Acho que preciso rever o filme, agora no lugar de mãe.
Da trilogia amor da vida, uma dica: as Andanças da Luisa Manske aqui na Substack. Ela está fazendo uma série de textos sobre os filmes e está apaixonante!